O Brasil é famoso pelo seu jeitinho de ser: povo alegre, hospitaleiro e com um quê de malandragem para tirar vantagem das situações, traduzida pela famosa Lei de Gérson.
Faz parte do costume brasileiro uma espécie de modus operandi onde o oportunismo, amparado pelo individualismo, dirige a ação dentro da conveniência pessoal em detrimento do interesse do outro ou da coletividade.
Quer seja no âmbito governamental, empresarial, profissional ou do senso comum, o brasileiro tende a não cumprir com as suas obrigações e exercer o seu direito, mas tão somente transferir o “macaquinho problemático” para outrem fazê-lo.
O brasileiro é assim, fala muito e faz pouco e se diz indignado com a corrupção do Brasil e com a falta de ética dos seus governantes, no entanto, em suas ações particulares age dentro da mesma lógica daqueles que critica na primeira oportunidade que tiver, tais como: pagar ou aceitar propina, ultrapassar pelo acostamento, fazer um puxadinho do seu estabelecimento comercial na área pública, invadir terras e destruir propriedades que julgam “improdutivas” dentre outros.
Apesar de saber que suas ações são moralmente erradas, a pessoa perdoa a si mesma porque acredita que sua transgressão não será notada e principalmente não será punida, além do que para ela o que importa é ter se dado bem.
Infelizmente, de certa forma, todos nós acabamos compactuando com esse jeito brasileiro de ser e alimentando o ciclo vicioso: reproduzindo-o, transmitindo por meio dos exemplos para os nossos descendentes ou nos calando diante das ações infratoras da lei.
As pessoas estão cada vez menos interessadas em cumprir com as suas obrigações de cidadão, pois elas sabem que poderão obter tudo aquilo de que elas precisam por meio do jeitinho. Isso é um problema grave porque desestimula o esforço pessoal produtivo e a observância das leis.
Enquanto a fonte não secar, elas não terão interesse de se mobilizar, de pensar no futuro já que o que realmente importa é somente a vantagem usufruída aqui e agora, mesmo que isso signifique prejudicar o outro.
Sempre que as pessoas agirem exclusivamente segundo as suas conveniências, exaltando o individual em detrimento do coletivo, estarão contribuindo para o prejuízo social. Quando a pessoa não faz a sua parte, caberá a outrem arcar com a conta. Enquanto uns ficam na mamata os outros ficam sobrecarregados na sua sustentação
Assim, urge a necessidade de que o pensamento coletivo seja parte dos princípios do povo brasileiro e que os valores sociais busquem a moralidade e a consciência em prol do benefício coletivo. O convívio social tem o seu preço e a cidadania tem de ser paga. Se se cada um não fizer a sua parte, sempre terá alguém que pagará a conta a preços exorbitantes pelo outro, pois não existe almoço grátis!
É difícil mudar os costumes, porém se faz necessário mudar toda essa mentalidade do jeitinho brasileiro, a fim de criar as bases da obrigação e do dever, a essência do bem e do mal, as bases da consciência moral, e as razões para a justiça e a harmonia das condutas socialmente aceitas. Caso contrário, nós prosseguiremos no caminho da perpetuação de uma sociedade corrupta e corruptora, onde todo o povo sairá no prejuízo. Como diz o ditado brasileiro: “Quem conta com a panela alheia, arrisca-se a ficar sem ceia”.
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