Na infância, muitos de nós tivemos a oportunidade de brincar de boca de forno. Tratava-se de uma brincadeira onde se elegia uma pessoa para comandar uma turma de crianças que, em princípio, deveriam atender as suas vontades. Iniciava-se sempre assim:
Comandante – Boca de Forno!
Comandado – Forno!
Comandante – Tudo que eu mandar vocês fazerem?
Comandados – Faremos
Comandante – E se não fizerem?
Comandados – Apanharemos...
Apesar de se repetir a fala, a brincadeira era sempre diferente, dependendo de quem exercia o papel de comando. Às vezes, ela era animada, em outras chatas e em muitas interrompidas por divergências e ou não aceitação do comando.
O ritmo da brincadeira era ditado pela criatividade, pelo senso de humor e principalmente pela influência exercida pelo comandante sobre os comandados para obedecê-lo.
Vemos essa mesma dinâmica nas organizações. Quem está com a batuta na mão que dá o tom do andamento dos trabalhos e os resultados dele advindos.
Dependendo do estilo gerencial e das crenças que possuem, alguns “comandantes” querem impor sua autoridade pela força, outros deixam a coisa correr frouxo com medo de se posicionar para não perder a querência dos seus comandados e têm ainda os que exercem uma natural influência sobre o comportamento de seu subordinado, fazendo com que o seu mando seja cumprido naturalmente, pois há a criação de um vínculo de submissão voluntária.
Quando se impõe a autoridade, há um movimento natural de defesa de território pela parte receptora da ordem. O instinto de sobrevivência aguça-se e a pessoa “ameaçada” fica alerta, pronta para o combate ou a dispersão. Mesmo que não se tenha nenhuma pretensão maldosa oculta por detrás da ordem, a desconfiança reinante faz com que a pessoa encontre fortes indícios de que a fala está maquiada de segundas intenções. Haverá o levantamento de uma verdadeira fortaleza para a proteção do eu e da liberdade e inicia-se a resistência velada ou exposta àquilo que foi ordenado, resultando na vivência de um campo de batalha diário e numa baixa produtividade.
Quando se deixa correr frouxo as coisas e fica em cima do muro, o comandante passa uma imagem de fraqueza. Ninguém o leva a sério, pois ele é o primeiro a não se posicionar e quem gritar mais alto leva a brasa para sua sardinha. A manipulação dos interesses se torna presente no dia a dia do trabalho e aquele que for mais esperto tirará proveito da situação a seu favor, tornando-se o comandante informal. Desenvolve-se o querer bem do chefe banana porque todo mundo gosta de levar vida mansa, mas, em contrapartida, o respeito vai para o ralo, prevalecendo o ritmo do samba do crioulo doido na casa da mãe Joana. A produtividade oscila entre o atendimento das demandas pessoais do comandante informal e da organização.
Quando há a assunção consciente do posto pelo comandante visando superar os desafios e atuando conforme as circunstâncias exigem, definindo-se o caminho a ser percorrido com firmeza, com clareza e compartilhando as informações para o alcance dos objetivos, cria-se um sentimento de unidade em todos os envolvidos. O comandante trafega de forma tão humilde pelos níveis do poder que é totalmente imperceptível quando ele exerce o papel de servo e de comandante. Com isso ele angaria simpatia e neutraliza a resistência, pois todas as pessoas se sentem iguais fazendo parte de uma grande conquista onde se mistura o pessoal e o grupal de forma harmônica. Esse sentimento de valorização da pessoa humana que o comandante faz brotar no coração dos comandados lhe traz respeito, admiração e lealdade. Sob o seu comando, os comandados se tornam verdadeiros paus para toda a obra, resultando num aproveitamento total das potencialidades humanas e produtividade acima do projetado no planejamento.
Assim, na estrutura organizacional, o verdadeiro comandante, também chamado de líder, que fará diferença. Mas encontrá-lo é uma tarefa árdua e muitas vezes desanimadora para o departamento de Recursos Humanos. Às vezes é mais fácil encontrar uma agulha no palheiro do que um verdadeiro líder.
Poucos serão os eleitos para experimentar os privilégios de um bom comando que torne o trabalho numa grande fonte de prazer. Se você for um desses privilegiados, aproveite, pois a maioria de nós terá que se contentar com os mandos e desmandos de comandantes que não passam de chefes.
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