quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A Magia da Culinária: o incomensurável prazer de dar prazer

Estão à nossa disposição alimentos os mais sortidos possíveis com múltiplas composições de nutrientes e cores, possibilitando a construção de um cardápio diversificado e multicolorido para satisfação de todos os paladares e necessidades alimentares, inclusive dos mais exigentes. Cabendo-nos tão somente evitar o seu mau uso e os seus excessos. Do contrário, tudo passa do ponto de equilíbrio e a mesma comida que nos alimenta pode se transformar em veneno e nos matar.

Os alimentos podem ser consumidos “in natura” ou podem passar por um processo de transformação tal qual a borboleta. O que se prepara e se come em cada lar está vinculado às tradições, às condições financeiras de cada família e principalmente à disposição de cozinhar e proporcionar em forma de comida o alimento da vida e o prazer do sabor.

Há uma coisa mágica no preparo da comida... O que acontece dentro de uma panela é uma verdadeira alquimia, onde há a transmutação das matérias em prol da formação de um novo prato.  

O segredo do preparo da boa comida está na forma de unir os ingredientes, de misturar a massa, do poder de homogeneizar os temperos e fabricar os sabores, de apresentação no prato e de uma gama de outros atos. Adicionado a isso tem o dom e a capacidade técnica do cozinheiro de seguir uma receita e ou de  inventar outra, que se aprimora ao longo dos anos de experiência, e de dar um toque de amor  que completa o encanto da comida.

Na cozinha, o cozinheiro se assemelha a um mestre de bateria na coordenação das atividades necessárias para o preparo da comida e na utilização de seus equipamentos. Cada uma deles individualmente produz uma porção de sons, que apresentam regularidade e a sustentação da cadência e do ritmo do preparo da comida. Assim, ouve-se o batuque das panelas, o afiar das facas, o fervilhar da água, o escorrer da água e outros sons, que são tocados mais rápidos, outras vezes mais devagar, refletindo o compasso imprimido pelo cozinheiro. Todos os sons chegam aos ouvidos dos famintos como uma música, acompanhados de aromas que  aguçam a fome. 

Outras vezes, o cozinheiro se assemelha a um passista, movimentando-se e girando-se de um lado para o outro na cozinha de modo surpreendente e emocionante. Cheio de gingado mexe a sua panela e tempera os alimentos, pondo uma pitada de emoções e adicionando uma infinidade de imaginação. E quanto mais arrisca na produção de algo diferente, maiores são as oportunidades de expressar sua arte de cozinhar, abrindo-se um campo infinitamente fértil para a criação do sabor.

“Le grand finale”   fica por conta da exposição e degustação da obra-prima, que traduz os sentimentos e um bocado da alma ali depositados. Tal qual o mestre-sala e a porta-bandeira, o cozinheiro traz, em forma de cortejo suntuoso, os pratos caprichosamente preparados. Um a um vai colocando na mesa, agrupando-os harmoniosamente, utilizando a psicodinâmica das cores para realçar sua beleza e dar uma aparência que atraia, seduza e desperte o desejo de saboreá-los, começando o ato de devorá-los pelos olhos.

Convidados a sentar à mesa, inicia-se o desfrute dos sabores que suscitam diversas emoções e experiências sensoriais. A coroação vem com os deleites provocados a cada garfada e a expressão de que, mais do que saciar a fome, as pessoas estão se maravilhando com a comida, a ponto de lamberem os próprios dedos na tentativa de aproveitarem até o último pedacinho do paraíso gastronômico.

Em cada semblante onde esteja transparecida a expressão de prazer de comer, soa como elogio que acaricia o coração do cozinheiro e faz com que tenha valido à pena todo o tempo de dedicação e amor aplicados no preparo do prato. Perpetuando, assim, o ciclo do prazer de cozinhar para dar prazer a quem da comida se deliciar.

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