De tempos em tempos no
órgão público a mudança da gestão administrativa vem acompanhada de pandemia da
má gestão da coisa pública. Os surtos da peste têm origem no estilo gerencial
dos “paraquedistas políticos” que, absortos nos seus próprios interesses
pessoais de poder, ganância e de autopromoção junto ao dirigente máximo,
assolam as unidades administrativas para as quais são designados. Dependendo da
sede de poder e da vaidade do novo ocupante do cargo comissionado, suas ações
podem fazer com que a doença se instale rápido ou mais devagar.
As principais características da
doença institucional são: desmotivação, queda de produtividade, injustiça, assédio
moral, puxada de tapete, clima de insegurança, caça às bruxas, onde em vez de
se resolver problema busca-se culpado; entre outros que minam a autoestima dos
servidores da casa e os fazem sentir como se fossem a escória do serviço
público tamanho o desrespeito com que são tratados.
A epidemia se apresenta de duas
maneiras. No primeiro mês as ações
contra os servidores concursados se limitam aos “paraquedistas políticos”, mas
logo após tornam-se também praxes comuns entre colegas de trabalho que,
despindo-se da sua ética profissional, coloca de lado os princípios da boa convivência
e incorpora o papel de delator da versão que lhe convém circunstancialmente
para se sobressair sobre o outro independente dos estragos que suas mentiras -
fruto de sua ótica distorcida do colega, possam provocar. Esse tipo de
comportamento covarde permite à peste da má gestão estabelecer-se porque, com
cada um agindo por si, há sempre suficiente número de novos hóspedes de
forma contínua para a sua manutenção endêmica.
É só uma questão de tempo até que
a epidemia da peste gerencial se espalhe por toda a organização, provocando o
desaparecimento do espírito coletivo e da solidariedade. O contágio da doença
desenvolve-se no dia a dia organizacional por meio de atitudes desrespeitosas
no trato entre chefe e subordinado e entre colegas, chegando ao seu ápice
quando, percebendo que poderá queimar o seu “filme” a proximidade com os que
foram perseguidos como se fossem criminosos, os outros servidores isolam os colocados
à disposição do Departamento de Recursos Humanos, condenando-os ao isolamento, deixando-os abandonado à sua própria sorte profissional.
As reações ao surto são variadas,
como é natural que ocorra em qualquer evento: cada qual tem um jeito peculiar
de entender e absorver os efeitos da epidemia. É a natureza humana reagir e
responder a diferentes eventos e circunstâncias dependendo do grau em que o
sofra. Para alguns, trata-se de mais uma gestão que perdura durante um tempo e
depois, assim como chegou, parte voltando ao normal o seu dia a dia, bastando
fingir-se de morto durante este tempo. Para outros, que sofreram o assédio
moral e tiveram o seu orgulho profissional ceifado, trata-se de uma questão de
vida e morte, onde para sobreviver tem necessidade de se colocar em uma
verdadeira redoma na qual possa se proteger de investidas dos “paraquedistas políticos”
e dos próprios colegas de trabalho. Assim sendo, eles se veem obrigados a viver
no ostracismo profissional e levar uma vida de sobrevivente do holocausto. Carpe
diem, esta se torna a sua norma e a sua conduta enquanto perdura a má gestão.
A mudança comportamental, onde é
extraído o que cada servidor tem de pior em seu caráter, provoca modos de busca
pela salvação, que se torna para muitos quase uma obsessão subjugar o outro e
maltratá-lo psicologicamente com doses generosas de crueldade.
A má gestão cria um clima de
pessimismo e de medo. As condições pesadas do clima organizacional originadas
pelo desrespeito da pessoa humana antes de tudo afetam a psique do servidor,
atacando sua autoestima e criando um estado de desconforto emocional que
impacta no seu dia a dia pessoal e profissional, levando-o ao estado de
depressão e a outros tipos de doenças psicológicas e física que fazem com que
ele entre cada vez mais com atestados médicos e não consiga produzir. Trabalhar
se torna uma verdadeira tortura emocional para os servidores infectados
diretamente pelo seu chefe.
Percebe-se, assim, como o surto faz
com que a doença infecte o corpo funcional e provoque mudanças na forma de ser
e agir dos servidores e na sua capacidade produtiva.
A peste no final de seu estágio
de contágio atinge indiscriminadamente todos os servidores refletindo os seus
efeitos maléficos para a baixa da qualidade dos serviços prestados a sociedade.
Assim sendo, a peste da má gestão vai além da organização e cobra também um
preço alto da sociedade que continua pagando seus impostos sem que para isso
tenha em contrapartida serviços públicos de qualidade. Infelizmente a culpa só
é imputada para o servidor carreirista. Desconhecendo as origens da peste,
muitos cidadãos culpam os servidores concursados os horrores causados pelo mau-funcionamento
da máquina administrativa, não entendendo que eles são somente mais uma vítima
das atrocidades da má gestão gerencial.
O pior de tudo é que a peste é
promovida pelo dirigente máximo da organização, fazendo com que os servidores
que não se coadunaram com a peste trabalhem e paguem todos os ônus provocados pelos
atos inconsequentes de seus protegidos colocados em postos chaves, os quais
deveriam ser responsáveis pela condução do trabalho rumo à modernização.
Entretanto o que os indicados políticos promovem é tão somente a destruição das
boas práticas administrativas e depois vão embora sem olhar para trás a
devastação que deixaram, assim como fazem os gafanhotos na plantação. E, apesar
da destruição provocada pela peste, os políticos dirigentes continuam
fornecendo todas as condições de que ela regresse junto com a sua gestão,
nomeando pessoas altamente incompetentes que contaminam toda a organização, assim
como ocorre com uma fruta podre dentro do cesto.
Se compararmos com os efeitos das
pestes de gestões anteriores, é possível verificarmos que elas são quase
idênticas à versão moderna. Mesmo quando o pior passa epidemias menores
continuam a acontecer, transportando os sintomas para a nova gestão após a
mudança. Os sobreviventes da peste e alguns moribundos vivem em medo constante
do retorno da peste, e a doença não desaparece até que seja combatida com o advento
da meritocracia e do respeito para com a pessoa humana e, por conseguinte, para
com o profissional que por méritos próprios ingressou no serviço público.
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