terça-feira, 19 de outubro de 2010

Improdutividade Coletiva

As mudanças no órgão público, na grande maioria das vezes, são provocadas pela troca de gestão e raramente para sua adequação ao ambiente em constante mutação no qual está inserido.

Mudanças constantes de gestão sem plano de comunicação e norteadas apenas por questões políticas em detrimento do técnico, que privilegia mais o leilão dos cargos e/ou das funções comissionadas do que da importância do trabalho e da escolha de um profissional com as qualificações necessárias para realizá-lo, produzem inércia e improdutividade coletiva no órgão. Evidentemente que além desses dois, existem outros fatores, tais como: a falta de planejamento, de definição de prioridades e de objetivos etc. que contribuem para a improdutividade, mas que serão tratados em outra oportunidade.

A falta de informação, somada a rapidez com que os boatos proliferam na rádio corredor, provoca as especulações de todas as naturezas e em todos os sentidos acerca das mudanças, gerando tensão entre os funcionários e impactando nas suas psiques, causando ansiedade e deixando-os paralisados e fixados nos acontecimentos acerca do que estão percebendo no ambiente.

Sob constante estado de alerta, os profissionais passam atuar na afobação e desespero perdendo o foco no trabalho, principalmente àqueles que percebem que estão com suas cabeças a prêmio ou prontas para serem decapitadas.

Muitos desses funcionários percorrem verdadeira via crucis para se manterem nos postos. Inclusive se submetendo a todos os tipos de humilhação profissional e de submissão aos mais caprichosos desejos de quem está com a coroa e sentado no trono, mesmo que não tenha nenhuma legitimidade para isso. Tudo isso tão somente pelo dinheiro!

Enquanto não se concretiza toda a mudança, o funcionário entra no círculo vicioso de freqüentes escapadas da sala para buscar informações junto à rádio corredor ou fazer a sua via crucis, não fazendo parte de suas preocupações o trabalho sob sua responsabilidade, que se acumula e perde prazos e objetividade. Com esse tipo de atitude o funcionário fornece a “guilhotina” para a sua decapitação, facilitando as manobras políticas da administração com todas as argumentações para eliminá-lo, quando isso o for conveniente.

Vencida a etapa dos despojos: de quem fica onde e com o que, entra em cena a nova fase da improdutividade: a disputa de poder.

As nomeações para ocupação dos cargos feitas a partir da teia de relações de poder criam situações conflitantes entre os funcionários, pois é gerada e alimentada a rede de intrigas, onde o detentor do poder garante sua “vitaliciedade” no cargo por meio de manobras ardilosas, semeando a discórdia com a estimulação da “puxada de saco e de tapete” entre os funcionários. É sabido que quanto mais desunido e desorganizado estiver o grupo, mais fácil se torna aplicar qualquer tipo de golpe.

Num ambiente de competição predatória, só ficam com os cargos e/ou as funções comissionadas os mais ambiciosos e inescrupulosos que colocam as suas “garras” para fora e de mais “doce bichinho” se transformam em um “monstro da Tasmânia”, capaz de utilizar de todas as táticas de guerra para galgar e/ou se manter no cargo/função comissionada sem pensar duas vezes para aniquilar sem dó e nem piedade todos aqueles que se encontram no meio do seu caminho, mesmo que eles sejam a mais insignificante das criaturas. Esse cenário reforça a visão de Thomas Hobbes de que o homem é o lobo do homem.

O trabalho se transforma numa arena de gladiadores, proporcionando um verdadeiro show da pequenez humana. Diariamente são travadas batalhas. Algumas são mais sangrentas do que outras, dependendo da sede de poder do ocupante ou pretendente do cargo. Assim de torturas psicológicas a canibalismo é possível ver de tudo um pouquinho.

É claro que quando o funcionário está lutando em prol da sua manutenção no poder não sobra tempo para se dedicar ao trabalho. De um modo geral, o funcionário preocupa-se mais com a eficácia de sua estratégia de combate do que com o planejamento do trabalho, fixando os seus poucos esforços na simples execução de tarefas rotineiras, não agregando nenhum valor a mais ao trabalho.

Consciente da improdutividade ou não, o órgão persiste em colocar-se numa eterna armadilha de procedimentos e ações estéreis advindas da falta da transparência de sucessão e do excesso de "politicagem" no preenchimento dos cargos e/ou das funções comissionadas.

Não é possível fazer com que as pessoas se comprometam com os objetivos do órgão por meio das estratégias de marketing e da aplicação da Lei de Gérson. Apesar do lindo discurso de modernização que muitas vezes acompanha a troca de gestão, a ação administrativa é percebida antiga, anacrônica, mofada e fétida.

As pessoas precisam entender o que está acontecendo e no que as mudanças impactarão no seu futuro profissional, bem como quais são as exigências para galgarem ou se manterem no cargo/função comissionada, caso contrário elas estarão comprometidas somente consigo mesmas sem nenhum contraponto para o órgão, quer seja pelo uso equivocado do poder, falta de hábito de cumprir com as obrigações, necessidade de subestimar o outro para se sentir bem ou por simples falta de princípios morais e éticos.

Se se quer alcançar os objetivos organizacionais, faz-se necessário ir além dessas práxis de usurpação da coisa pública, não persistindo em ações que não trazem nenhum benefício, as quais devem ser abandonadas, arrancadas e extirpadas do processo de trabalho.

A produtividade começa a nascer quando se muda o modelo de gestão de usurpação para o de meritocracia. Somente a mudança de atitude e de perspectiva frente aos fatos é que poderá evitar que haja a improdutividade coletiva, que se percam profissionais importantes e, às vezes, o rumo e a razão de existir da organização.

Assim é absolutamente necessário contar com a inteligência e a força produtiva dos melhores profissionais para conseguir realizar o trabalho difícil de transformação de uma visão em realidade e obter os resultados almejados.